Texto: Sérgio Dias
Fotos: Divulgação
Muitos tutores já viveram a situação de sair, deixar o pet em casa e apenas algumas horas depois encontrar móveis roídos, xixi e cocô feitos em lugares indesejados e muito mais.
Mas será que o pet tem esses comportamentos destrutivos por birra, por vingança, de forma arquitetada contra o dono, por ter ficado sozinho, e depois sente culpa, quando repreendido e arrependido?
“A ciência afirma que apenas os primatas ditos superiores, como gorilas, macacos e, claro, humanos, têm essa capacidade de percepção. Cães, portanto, não têm essa habilidade. Na prática, isso significa que a birra, a vingança ou a culpa, por serem emoções muito elaboradas, não fazem parte do repertório emocional dos cães”, explica a geneticista Camilli Chamone, que também é consultora em bem-estar e comportamento canino e criadora da metodologia neuro compatível de educação para cães.
Esses comportamentos destrutivos são uma forma que os cães têm de tentar aliviar a ansiedade que sentem, sendo equivocada a ideia de que estejam fazendo birra ou se vingando do seu dono por deixá-lo sozinho.
Outro engano é acreditar que o cachorro se arrepende após fazer algo errado. As expressões corporais e faciais que remetem ao arrependimento não se relaciona, de fato, com aquilo que o animal está sentindo.
"O que acontece, na maioria das vezes, é que os cães sentem medo, essa emoção, sim, é cientificamente comprovada de ser sentida por eles, em situações ameaçadoras, quando por exemplo o dono aumenta o tom de voz ou faz determinadas expressões e gestos", diz Chamone.
Algumas expressões físicas do medo são abaixar as orelhas, colocar a cauda entre as pernas, tremer e ficar com olhar piedoso ou parado em um canto, na tentativa de se esconder.
Por isso é comum que o tutor confunda essa linguagem com culpa. “Por isso, ao chegar em casa e ver algo fora do lugar, o humano tende a brigar com o cão, na esperança de que ele entenda, se culpe e mude. Mas isso jamais acontecerá”, afirma Chamone.
Para lidar melhor com a situação e tirar o cachorro de um quadro de estresse ou ansiedade, o foco precisa sair de ações punitivas, que tentam fazê-lo sentir culpa sem efeito algum, já que ela não existe nos cães, e ir para outras que melhorem sua qualidade de vida e, consequentemente, a de toda a família.
Punir o cachorro, nesse tipo de situação, tende a agravar o problema. “A punição gera medo, o medo gera estresse e o estresse piora os comportamentos destrutivos. Além disso, o cão vai perdendo a confiança no tutor”, finaliza a geneticista.
Uma boa iniciativa é levar o pet para passear, preferencialmente em locais com bastante natureza para que ele possa farejar, fazer suas necessidades e marcar território. Ao gastar energia física e mental, a tendência é relaxar mais em casa.
Além disso, é importante saber que alguns comportamentos são naturais dos cães, como, por exemplo, roer. Nestes casos, basta canalizar a energia para um brinquedo de roer, de forma que ele não tenha que mastigar o pé da mesa ou o braço do sofá, a fim de se satisfazer.
Por fim, se essas ações não resolverem, é indicado buscar ajuda profissional, que oriente o dono a usar outras estratégias específicas e eficientes para diminuir o estresse do animal.
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