Como era de se esperar, o segmento automotivo vem tentando se recuperar no Brasil a despeito da pandemia. Certamente a indústria projetava números maiores, mas ninguém sequer imaginava que viria uma outra onda da Covid-19 tão forte neste início de 2021.
A recuperação não tem sido fácil em todo o mundo, pois ainda convivemos com um indesejado efeito colateral: o aumento de custos e a falta de insumos, particularmente, de semicondutores.
Quando a cadeia automotiva, que tradicionalmente é muito assertiva em suas projeções, se depara com gargalos desta natureza é realmente porque houve um ponto excessivamente fora da curva. Esse ponto chama-se Covid-19.
A pandemia bagunçou com todas as projeções. E, mesmo com ela em curso e tragicamente evoluindo, provocando segundas e terceiras ondas de contágios exponenciais em todo o mundo, com graves consequências inclusive aqui no Brasil, não ficou apenas difícil, mas praticamente impossível interpretar o mercado com alguma previsibilidade.
Essa é, sem dúvida, a parte ruim, pois no primeiro trimestre deste ano foram licenciados apenas 527,9 mil unidades, um resultado 5,4% inferior ao aferido no mesmo período do ano passado quando, lembrando, em janeiro, fevereiro e praticamente até a primeira quinzena de março tudo estava andando muito bem e ninguém nem imaginava os estragos que a pandemia causaria por aqui.
Mas a parte boa é que o mercado automotivo nacional, surpreendentemente, vem tentando reagir de maneira positiva. Neste primeiro trimestre, mesmo sob o agravamento da pandemia, a despeito de 30 fábricas de veículos terem fechado os portões e parado a produção colocando 65 mil trabalhadores em casa, a produção foi de 597,8 mil unidades contra 585,9 mil veículos fabricados no primeiro trimestre de 2020. Um aumento tímido de 2%, mas que deve ser interpretado como espetacular dada as terríveis circunstâncias deste início de ano.
Esse aumento de produção se dá em função de significativa melhora no ambiente externo onde os carros “made in Brazil” voltaram a se destacar em importantes mercados de exportação como Argentina, México, Colômbia, Chile, Equador e o Continente Africano. De janeiro a março deste ano a indústria automotiva nacional exportou 95,8 mil veículos marcando crescimento de 7,6% sobre o primeiro trimestre do ano passado quando foram embarcados para fora 89 mil unidades.
No segmento de caminhões, então, os negócios vão de vento em popa. Em março o mercado nacional absorveu 10,8 mil caminhões com um crescimento espetacular de 38,3% sobre fevereiro, quando 7,8 mil veículos foram emplacados. Computando o trimestre, foram 26,1 mil caminhões licenciados contra 20,1 mil em igual período do ano passado. O salto deste ano em comparação com o ano passado foi de 29,5%, puxados principalmente pelos segmentos do agronegócio, mineração e construção.
Estamos exportando mais caminhões também. Nos três primeiros meses deste ano foram enviados para o exterior 5,3 mil veículos contra 2,8 mil no mesmo período do ano passado. Mais uma vez reforçando: estamos em plena pandemia e, no primeiro trimestre do ano passado, quase nem se falava deste problema.
O que podemos inferir, analisando esses resultados, é que a demanda represada desde a longa crise econômica nacional entre 2015 e 2017, evidentemente vem exercendo forte pressão no consumo. Não fosse o problema da pandemia, 2020 teria sido ótimo e, neste ano, seria ainda melhor.
Tão logo o problema desta crise sanitária seja resolvido, e isso só acontecerá com imunização em massa, vamos ter um crescimento sustentável que pode se estender por toda esta década que, aliás, trará grandes desafios de mobilidade com exigências cada vez mais fortes por veículos ambientalmente mais amigáveis, como os elétricos ou híbridos, por exemplo. Por isso mesmo que toda a cadeia automotiva, a fim de evitar colapsos, desastrosos gargalos e impactos financeiros na operação (como o que estamos presenciando agora com a falta de componentes e elevados custos de insumos vitais), deve unir esforços no sentido de buscar, cada vez mais, maior cooperação e colaboração entre si.
*Marcos Gonzalez é o diretor responsável pelo segmento automotivo da Becomex. Formado em Engenharia, com pós-graduação em Administração e MBA em Gestão Fiscal e Tributária, o executivo acumula mais de 35 anos de experiência profissional em empresas do setor automotivo. Gonzalez tem sólida carreira desenvolvida em empresas multinacionais com forte experiência na prospecção e desenvolvimento de novos negócios e habilidade multicultural adquirida no desenvolvimento de atividades comerciais junto a clientes no exterior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário