O Brasil no caminho do título
Por Edmur Hashitani
Amanhã, durante o GP do Brasil,
Felipe Massa colocará de vez seu
nome na história do automobilismo
nacional. Não, isto não é uma profecia
sobre a decisão do mundial deste
ano. É apenas a constatação dos
serviços prestados até aqui pelo piloto.
Campeão, ou não, Felipe entra
de vez para o hall de grandes pilotos
brasileiros.
Pela primeira vez depois de quinze
longos anos, o país volta a ter um
real postulante ao título da temporada.
Este fato, independentemente
de a conquista se realizar, credencia
Massa a postular um lugar entre os
heróis a motor do país.
Ter um brasileiro na condição de
candidato a campeão novamente
faz com que as pessoas voltem a ter
interesse pelo automobilismo. Com
um pouco de otimismo, pode-se esperar
até que as entidades nacionais
voltem a investir em fortes campeonatos
de monopostos, para preparar jovens
pilotos.
O que importa é que Felipe resgata
no povo uma identidade que
estava perdida desde a morte de
Ayrton Senna, em 1994. E ele consegue
isso, principalmente por ter
conseguido desvincular sua imagem
do tricampeão, uma crueldade que
perseguiu Barrichello, contra sua
própria vontade, por anos.
Rubens Barrichello, aliás, tem
grande colaboração nisso tudo. Por
mais que tenha ficado marcado como
capacho de Schumacher e como mau
piloto, tendo ganho até apelidos, a
verdade é que Rubinho teve que segurar
sozinho toda a responsabilidade
de ser o piloto a substituir Senna.
Ao conseguir excelentes desempenhos com carros que eram verdadeiras
cadeiras elétricas e, ao alcançar um posto na Ferrari despertou
no país a esperança de um novo
campeão mundial. Mas, mesmo ele,
com seu discurso otimista, sabia das
dificuldades que enfrentaria tendo
Michael Schumacher como companheiro.
Eddie Irvine, seu antecessor,
só teve liberdade para disputar o
campeonato em 1999, depois que o
alemão quebrou a perna em um acidente, em Silverstone, e ficou algumas
provas afastado.
Talvez, o que tenha faltado a
Rubens foi uma chance sem Schumacher,
como teve Kimi, como está
tendo Massa. Ainda assim, seu papel
foi importante na transição, para
manter o país com um representante
forte, ainda que por muito tempo
não tenha sido reconhecido como
tal.
A perda de um ídolo como Senna
podia ter confi gurado um cenário
muito pior do que foi. A falta de
interesse por parte do público, falta
de incentivo das entidades e, até, o
medo de incentivar os fi lhos a praticar
um esporte que novamente se
mostrava perigoso.
No entanto, pilotos brasileiros
continuaram a surgir, ainda que em
menor escala. Houve uma entressafra
de grandes talentos, é verdade.
Os principais nomes do país, sem
patrocínios fortes e, conseqüentemente,
sem espaço na Fórmula 1,
migravam para os Estados Unidos.
Gil de Ferran, Tony Kanaan e Helio
Castroneves faziam sucesso na Indy,
enquanto no mundial éramos
representados por Pedro Paulo
Diniz, Luciano Burti, Enrique
Bernoldi e Tarso Marques, dentre
tantos outros. Ambos bons pilotos,
mas em equipes de pouquíssima expressão
e que não podiam oferecer
a possibilidade de buscar bons resultados.
Barrichello, assim, segurou
toda a ‘bucha’, sozinho.
Por todo este cenário desfavorável
que foi superado, somado
ao grande adversário que teve e
aos erros da equipe durante todo
o campeonato, um possível vicecampeonato
de Massa não pode ser
considerado como fracasso na carreira
do piloto, mas sim como um
passo à frente, um avanço, tanto na
trajetória de Felipe quanto do automobilismo
nacional. Mas o caneco
seria muito bem vindo.
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