O desempenho dos brasileiros
Pilotos da casa lideram o ranking de vitórias no GP do Brasil
Por Edmur Hashitani
Desde sua inserção no calendário oficial da Fórmula 1, em 1973, o GP do Brasil é a grande atração automobilística do ano para a torcida do país. Torcida esta que sempre reclama da falta de vitórias de pilotos de casa. No entanto, ao vermos a história, pode-se comprovar que o desempenho de nossos pilotos em pistas tupiniquins está longe de ser ruim.
O Brasil é o país com o maior número de vitórias em provas por aqui, empatado com a França. Ambos os países venceram oito provas. Se contarmos as provas não oficiais, os brasileiros têm nove vitórias, já que Emerson Fittipaldi venceu o GP extracampeonato de Brasília, em 1974. Também temos o maior número de vencedores. São cinco, contra três franceses. No total, 24 pilotos do país já disputaram o Grande Prêmio.
Porém, a primeira prova de Fórmula 1 realizada no país, em 1972, ironicamente foi vencida por um argentino. Carlos Reutemann guiava uma Brabham quando venceu a prova de exibição, que serviria como um teste para saber se Interlagos tinha condições de receber uma corrida oficial. Emerson Fittipaldi, que havia largado na pole-position, enfrentou problemas de suspensão e abandonou. O melhor brasileiro foi seu irmão, Wilson Fittipaldi, que chegou em terceiro.
No ano seguinte, a primeira prova oficial e a primeira vitória brasileira. Pilotando uma Lotus, Emerson, que havia sido campeão no ano anterior, largou na segunda posição, mas ultrapassou Ronnie Peterson, seu companheiro de equipe, logo no início da prova e venceu com certa facilidade. Fittipaldi vencia sua segunda prova em duas provas – a primeira etapa do campeonato havia sido na Argentina e o brasileiro havia devolvido a vitória de Reutemann no ano anterior.
Em 1974, Fittipaldi venceria novamente em casa. Já na McLaren, a vitória foi a primeira das três que o levaria ao bicampeonato mundial (Emerson venceu ainda na Bélgica e no Canadá). Largando na frente, ele caiu para a terceira posição na partida, mas conseguiu se recuperar, dando ao país a segunda vitória doméstica consecutiva.
No mesmo ano, um fim de semana depois, ele ainda venceria a prova de exibição Grande Prêmio Presidente Médici, disputada em Brasília e sem contar pontos para o campeonato. Esta foi a única etapa de Fórmula 1 disputada na capital federal.
Em 1975, uma surpresa. José Carlos Pace venceria sua única prova na Fórmula 1, no autódromo que anos mais tarde levaria seu nome. Pilotando uma Brabham, largou na sexta posição e levou 33 voltas para assumir a liderança, com boa vantagem para Emerson, que vinha em segundo. Estava configurada a primeira dobradinha do país em um GP do Brasil. Terceira prova oficial, terceira vitória brasileira.
Mudança para o Rio
Depois da vitória de Pace, seguiu-se um jejum de sete anos sem vitórias em casa, que só foi quebrado por Nelson Piquet, no ano de seu segundo título mundial, 1983, em Jacarepaguá. O piloto já havia vencido no ano anterior, no entanto, foi desqualificado. Naquela época, a pesagem do carro era feita antes da prova e durante a corrida e foi descoberto um tanque de água irregular nos carros de Piquet e Rosberg. Um dispositivo era acionado e o líquido liberado, deixando assim o carro mais leve, dando vantagens aos dois.
Piquet voltou a vencer no Rio em 1986. A etapa era a abertura do campeonato e o piloto havia se transferido para a Williams, após um péssimo ano da Brabham. Além disso, o carioca vinha perdendo espaço para o jovem Ayrton Senna, que havia sido o quarto colocado no mundial anterior e chamava a atenção de fãs, imprensa e dirigentes.
A Lotus preta partia da pole-position, mas para a corrida, as Williams estavam melhor acertadas. Logo na primeira volta, Mansell tentou o ataque, tocou o carro de Senna e acabou saindo da pista. Piquet teve mais sorte e competência na ultrapassagem e dominou a prova, que terminou com dobradinha brasileira no pódio, com Senna chegando no segundo lugar.
A volta a Interlagos
Ayrton Senna já era bicampeão do mundo quando finalmente conseguiu sua primeira vitória dentro de casa. Mas foi preciso muito sofrimento para garantir aquele que talvez tenha sido o mais emocionante de seus triunfos. Na chuva, como o piloto gostava, sua McLaren apresentou problemas de câmbio nas últimas voltas.
Com apenas uma das seis marchas do carro, Ayrton pilotou com maestria e um esforço sobre-humano. Ao fim da corrida, Senna desabafou. Era possível ouvir seus gritos dentro do capacete, enquanto voltava aos boxes. O cansaço físico era tão grande, que ele precisou ser tirado do carro pelos médicos. No pódio, visivelmente extenuado, teve dificuldades até para levantar o troféu, mas insistente como sempre, ele o ergueu, como que mostrando ao mundo sua capacidade de superação. Estava quebrado o tabu.
Dois anos depois, o feito se repetiu. Senna tinha um carro muito inferior às Williams de Alain Prost e Damon Hill, mas uma série de acidentes e, claro, a chuva, ajudaram o paulista a assumir a ponta e vencer, pela segunda e última vez, em Interlagos.
Entressafra
O país entrou então em um longo jejum. Sem brasileiros em equipes de ponta, o que se via era um tremendo domínio de Michael Schumacher, que venceu quatro vezes em Interlagos. Em 2000, Barrichello então assinou com a Ferrari, enchendo a torcida de esperança, nos cinco anos em que ficou na Scuderia de Maranello. No entanto, a vitória sempre bateu na trave.
Sinal de má sorte, ou não, dependendo da crença de cada um, Rubinho chegou por três vezes em 13º lugar. E aconteceu de tudo com ele. Em 2001, seu primeiro ano de Ferrari, seu bólido vermelho apagou antes mesmo de chegar à linha de largada e ele teve que correr com o carro reserva. Em 2003 a equipe, que à época era perfeita nas estratégias, errou as contas e o deixou sem gasolina quando liderava uma prova. Caso sua aposentadoria realmente se confirme este ano, a falta de uma vitória em seu país será uma das maiores injustiças que a categoria já viu.
Um novo nome na garganta da torcida
O hiato se estendeu até 2006, quando Barrichello foi substituído por outro brasileiro na Ferrari. Felipe Massa participava daquela prova com um macacão especial, verde e amarelo, inspirado na bandeira nacional, protagonizando uma das poucas vezes em que um carro de Maranello foi pilotado por alguém que não estivesse de vermelho. O traje pareceu trazer sorte. Massa, que precisava ajudar Schumacher na briga pelo título com Fernando Alonso, fez a pole enquanto o alemão enfrentava problemas e largaria no meio do grid.
Com o título praticamente perdido e Schumacher fora de combate, o cenário era perfeito para Massa vencer a corrida. E foi o que aconteceu, para delírio do público presente, que viu, após 12 anos um brasileiro vencer em casa, e literalmente vestindo as cores do país.
No ano seguinte, mais um domínio de Massa em Interlagos, mas, desta vez ele teve que dar passagem a outro companheiro de equipe. Kimi Räikkönen disputava o título com Lewis Hamilton e Fernando Alonso, ambos da McLaren. Após seu segundo pit-stop, Felipe cedeu a posição para o finlandês, que assegurou o título da temporada.
Os brasileiros em números
No total, 24 pilotos brasileiros participaram do GP do Brasil de Fórmula 1, número que este ano deve aumentar para 25 com a participação de Nelson Ângelo Piquet. E desde 1972, apenas em um ano, o de 1978 o Brasil só teve um representante na prova. Emerson Fittipaldi foi o brasileiro solitário na primeira corrida de F1 em Jacarepaguá e, correndo com uma Coopersucar, conseguiu um heróico segundo lugar. O vencedor foi o argentino Carlos Reutemann.
Já o recorde de pilotos da casa competindo em uma prova no país no mesmo ano se repetiu por quatro vezes. Em 1973, estavam na pista: Emerson e Wilson Fittipaldi, José Carlos Pace e Luiz Bueno; em 1991, Senna, Piquet, Maurício Gugelmin e Roberto Moreno; em 1996 foram Pedro Paulo Diniz, Ricardo Rosset, Barrichello e Tarso Marques; e em 2001 estavam na pista Barrichello, Tarso, Enrique Bernoldi e Luciano Burti.
O recordista de participações no GP doméstico é Rubens Barrichello, que também detém o recorde de GP’s participados em toda a história da Fórmula 1. Rubinho já teve 15 chances de realizar o sonho de vencer em casa, sendo que a prova de amanhã será sua décima sexta no Brasil.
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